Saturday, September 10, 2005

Gustave Courbet, A Leitura


Charles Baudelaire, tradução Jorge Pontual


La Muse vénale

Ô muse de mon coeur, amante des palais,
Auras-tu, quand Janvier lâchera ses Borées,
Durant les noirs ennuis des neigeuses soirées,
Un tison pour chauffer tes deux pieds violets?

Ranimeras-tu donc tes épaules marbrées
Aux nocturnes rayons qui percent les volets?
Sentant ta bourse à sec autant que ton palais
Récolteras-tu l'or des voûtes azurées?

II te faut, pour gagner ton pain de chaque soir,
Comme un enfant de choeur, jouer de l'encensoir,
Chanter des Te Deum auxquels tu ne crois guère,

Ou, saltimbanque à jeun, étaler tes appas
Et ton rire trempé de pleurs qu'on ne voit pas, Pour faire épanouir la rate du vulgaire.


A Musa venal

Adoras brilhar, musa do meu coração,
Mas se chegar o Inverno em sua branca manta
E se a negra amargura de sofrer for tanta,
Para aquecer os pés acharás um tição?

A luz dos cabarés onde a cidade janta
Trará de volta à vida o corpo sem ação?
Como extrair do céu o ouro da canção
Se a bolsa está seca, mais do que a garganta?

O pão de cada noite hás de pelejar
Igual ao sacristão que vive de incensar,
Cantando a louvação que sabe ser lorota,

Saltimbanco em jejum, o riso sem porquê
Embebido num choro que ninguém mais vê,
Para fazer vibrar a alma do idiota.

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