Thursday, June 16, 2005

BRUNO LATOUR, UMA NOVA POLÍTICA

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Poucas vezes entrevistei alguém tão brilhante quanto Bruno Latour.
É daqueles que pensam alto, e pensam comprido, derramando idéias num jorro que parece às vezes se perder mas sempre volta ao leito do pensamento inicial.
Confesso que a entrevista que foi ao ar no Milênio da Globo News não funcionou na TV.
É complexo demais para ser acompanhado na telinha, mesmo com legendas em português.
A leitora e o leitor atentos do nyontime têm agora a chance de ler e reler Latour até entender -- ou não -- por enquanto em francês. Um dia terei tempo de traduzir para o português e, quem sabe, para o inglês...
Latour passou por Harvard em março, quando estava a dias de abrir Fazer as Coisas Públicas em Karlsruhe na Alemanha, mais uma na série de exposições em que ele junta cientistas, artistas, pensadores, engenheiros, etc, para desenvolver um tema. No caso, as muitas formas de "fazer política" criadas ao longo da História e as novas que vêm por aí.
Latour é um antropológo das ciências. Começou investigando como a ciência é feita na prática dos laboratórios, e descobriu que é um processo de negociação, de investigação e debate coletivo, semelhante ao da política.
No livro Nunca Fomos Modernos, mostrou que a divisão feita pelos cartesianos e modernistas, entre cientistas que detêm o saber e políticos que decidem em nome da sociedade, é uma ficção que nunca funcionou na prática.
Nos problemas de hoje, seja o aquecimento da atmosfera, a manipulação genética, a transformação da sociedade pela alta tecnologia, não há mais como separar ciência e política.
No livro Política da Natureza, Latour propõe uma ecologia política com um caráter profundamente democrático, pois pressupõe a participação de todas as partes interessadas, até os não-humanos , como a floresta, os bichos, as minhocas (vers de terre) , representados por cientistas e defensores dos animais, ao lado dos índios, dos garimpeiros, dos economistas e dos artistas. "As decisões são importantes demais para serem deixadas só para os políticos", ele provoca.
Sempre com um sorriso maroto de quem sabe estar questionando todos os chavões da ciência, da ecologia e da política -- especialmente de esquerda -- Latour desafia modernistas e pósmodernistas, em busca do bom senso e da civilidade. "A maior qualidade na política", ele diz, "é a decência". Uma qualidade em falta. Mas Latour nos anima: "Em toda parte a política anda desanimadora, em crise. Mas é uma crise interessante".
Leia aqui a entrevista de Bruno Latour, por enquanto só em francês. É melhor fazer um copy/paste e imprimir pra ler na cama, porque são nove páginas...

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